Eu não sei ao certo como começar e, por incrível que pareça, nem pensei em como fazê-lo enquanto tudo acontecia – mesmo que tudo isso se deu há pouco minutos.
Hoje acordei mais tarde do que o normal. É dia de Set Universitário. Um evento realizado pela Faculdade de Comunicação Social da PUCRS (FAMECOS). Um evento que está apresentando muitas pessoas interessantes e que podem acrescentar muito na vida de qualquer pessoa que atue no ramo da comunicação. Uma destas pessoas é a jornalista Eliane Brum - que eu tornarei a falar mais depois.
Mas, voltando ao meu dia, que poderá ajudar a explicar um tanto do que estou sentindo. Ao levantar, como de costume, liguei o rádio do meu celular e ouvi a rádio gaúcha enquanto preparava e tomava meu café da manhã. A única coisa que se falava era o caos da cidade por conta da chuva torrencial que cai desde a noite de ontem. Ruas bloqueadas. Arroio dilúvio com o nível muito acima do normal. Trânsito caótico.
Olhei pela janela e pensei em seguir o conselho do jornalista André Machado do programa atualidade. “Se você puder ficar em casa hoje, o faça”. Eu ficaria. Até que me disseram que a única avenida pela qual eu transitaria de ônibus, estava um tanto tranquila comparada à outros pontos da cidade.
Resolvi ir até à PUCRS. Talvez o que mais tenha pesado para eu me deslocar até lá tenha sido o fato de eu não querer receber falta do que o que eu vivenciaria lá. No entanto, posso afirmar com muita certeza de cada pingo de chuva que sobre mim caiu, valeu a pena. Meus pés encharcados e minhas roupas molhadas orgulham-me de certa forma. Quem sabe pelo fato de ser uma representação visível do que eu passei para chegar até lá e algo que atenua o estresse – mesmo que pouco – de ter de me movimentar em uma situação tão chata.
A palestra começou e eu estive bem concentrada desde o início. Só que, desta vez, não precisei pensar em me atentar. Isso ocorreu por si só. Eu não consigo me lembrar do exato momento em que tudo o que Eliane falou, começou a ficar tão intenso em minha mente. Acredito que desde que ela começou a palestrar, explicando suas metodologias, se dizendo tímida e fazendo uma palestra de seu jeito.
Com uma voz doce, e, por vezes, sensibilizante, ela me emocionou. E, enquanto ela falava, este texto e fragmentos que o comporiam, mas não irão por eu ter esquecido, se desenvolviam em minha mente. Meu texto fluía e muitas coisas que ela falava, faziam muitas outras coisas brotarem em minha mente. Nos momentos em que ela falava do homem que comia vidro, da mãe que já tinha comprado o caixão do filho – mesmo este estando em vida -, do garoto que ia para a expointer com um cabo de vassoura tratando-o como se fosse um cavalo, eu relembrava diversas coisas que já havia pensado. E, mais, eu pensava em quanta coisa ela fez que eu quero fazer. Só que não faço.
Não faço por diversas coisas, todavia, a mais expressiva delas é o medo. O medo de a pauta cair. O medo da apuração ridícula. O medo de não ser competente. E, quando Eliane dizia que temos de complicar as nossas pautas, eu não soube o que pensar, pois eu sei que posso complicar, sei que tenho como fazer isso, mas, não consigo ver-me fazendo isto. Acho-me mesquinha. Vejo-me como alguém que não sabe ‘pensar fora da caixa’ como muito se fala na comunicação.
E, não há nada que possa mexer mais comigo do que o momento em que eu consigo encaixar acontecimentos distintos na minha vida; situações descritas pelos outros, colocadas de frente com situações semelhantes já vivenciadas por mim.
Eliane contava sobre a sua maneira de apurar. Falou de como pode afirmar em uma reportagem sua que fazia sol em uma cidade que ela não estava. Disse que, para publicar isso, entrevistou cinco pessoas, e, não bastando isso, consultou dois sites de meteorologia.
Desta forma, não pude deixar de materializar em minha mente a minha pauta. A pauta que estou conduzindo para a cadeira de laboratório de jornalismo. Escolhi a editoria de política, justamente por eu não saber escrever sobre e entender pouco sobre o cenário atual da política brasileira, principalmente. Escolhi uma pauta que não vai render. E me dói isso, pois enquanto ela falava, eu não podia deixar de pensar na apuração ridícula que estou fazendo. Não pude tirar da minha mente a cena de ontem à tarde quando fui ao prédio do Jornal Zero Hora conversar com a jornalista Rosane de Oliveira e tive a oportunidade de trocar ralas palavras com ela, mesmo que tivéssemos marcado. Não a culpo por isso, mas me culpo por não saber o que pedir, não estar certa do rumo que devo direcionar a minha matéria e nada saber sobre o assunto. Eu confesso que tenho medo dessa pauta e que tenho muita vontade de que ela fique interessante. Quero que ela faça valer os poucos minutos de quem a ler. Em minha cabeça não poderia existir outra questão a não ser: como fazer com que uma pequena matéria sobre um assunto que esta sempre na mídia seja interessante, considerando que seria reportada por uma estudante de 1º/2º semestre em uma cadeira de laboratório de jornalismo?
Foram inúmeras coisas que passaram pela minha cabeça enquanto ela falava e posso dizer que não foram poucas as lágrimas que segurei. Não sei exatamente o porquê da minha vontade de chorar, mas eu a senti. No entanto, mais uma vez, não deixei de me preocupar com o que ‘os outros’ vão pensar. Infelizmente. Segurei minhas lágrimas por um tempo, e até o momento em que sentei no ônibus para retornar até em casa, eu já não sentia mais vontade de chorar. Pode ser coincidência, ironia do destino, karma ou o que quer que seja, peguei o coletivo que tinha fixado em um dos vidros das janelas o poema do ônibus que já postei no meu blog “os olhos inundam, quando a mente transborda”. Minha encheu-se, mas eu não permiti que ela derramasse.
E, pensando muito em tudo o que ouvi e repensando os meus devaneios, eu me comparei com Eliane, quando me lembrei dela dizendo que desde pequena, sempre foi uma escutadora. Não só de audição apurada, mas de silêncio, de gestos, de cheiros. E eu sou assim também. Não exatamente, mas me permiti comparar e, algum dia, explicarei melhor no blackbird.
Em meio à sensibilidades apresentadas por Eliane e um antigo professor seu da Famecos, eu também pensei em um professor que me motiva a ir à aula e pensar diferente. E, melhor ainda, me faz acreditar que eu vou conseguir. Ele ainda nem imagina que nutro tanta admiração por ele. Quem sabe, eu diga. Acho que ele tem o direito de saber que o admiro e a influência que ele vai ter na minha vida profissional.
Em meio à uma chuva torrencial e uma tempestade de sentimentos, eu encerro esse texto, fazendo sentido ou não, tendo nexo ou não, provando para mim que, ainda existe algo que me acalma, que me trás a sensação de dever cumprido e me proporciona mostrar uma porção de coisas da minha vida, que é escrever. Agora, me sinto bem mais tranquila e disposta a trabalhar, andar na chuva, e, numa proporção bem maior, acreditar que as minhas ideias, por mais mirabolantes que sejam, podem se tornar verdade não só mais dentro da minha cabeça.
Originalmente publicado em
blackbird, por Laís Escher.